Com ou sem aumento real, o salário mínimo brasileiro está longe de suprir o necessário para o sustento de uma família. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo atualmente deveria ser de R$ 6.458,86 para atender despesas como alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O valor é 5,2 vezes maior que o piso federal atual, de R$ 1.212.
Mesmo se corrigido acima da inflação seguindo a regra antiga de reajuste, que soma o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) do ano anterior ao Produto Interno Bruto (PIB) do ano retrasado, o valor do salário mínimo não chegaria ao ideal necessário para as famílias brasileiras.
Como o PIB de 2020 foi negativo (-4,1%), digamos que o crescimento deste ano fosse o mesmo registrado em 2010, de 7,5% de avanço (maior PIB da década). Este valor mais o IPCA registrado em 2021 de 10,16%, garantiria um aumento de 17.66% no salário mínimo, que passaria a ser R$ 1.294,26.
A última edição do Índice FinanZero de Empréstimos (IFE) revelou que o salário mínimo ideal não fica tão distante da média do valor dos empréstimos solicitados pelos brasileiros em 2022, de R$ 6,8 mil.
Para quitar este montante, comprometendo 30% da renda, os brasileiros que se sustentam com o salário mínimo atual passam, no mínimo, 18 meses para quitar um empréstimo. Com um salário mínimo ideal, esse tempo seria de 4 meses.
- Dívidas constantes
Seja por falta de renda suficiente ou não, a maioria dos solicitantes de empréstimo segue com o objetivo de pagar dívidas. Cerca de 34% das solicitações de outubro, em 25 estados brasileiros foram para este fim, com exceção de Alagoas e do Amapá. Este número ficou de acordo com o crescimento no número de inadimplentes no Brasil, que no décimo mês do ano atingiu um novo ápice.
Quatro em cada dez brasileiros adultos (40,05%) estavam negativados em outubro deste ano, o que equivale a 64,87 milhões de pessoas, um novo recorde para a série histórica iniciada há oito anos. Esses são os números mais recentes divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Diante deste cenário nacional, outros motivos para pedidos de empréstimo se tornaram coadjuvantes. O segundo mais popular, a abertura de um negócio próprio, tem menos da metade dos solicitantes que pretendem pagar dívidas (15,4%) e renovação da casa, representando 14,5% dos pedidos.
Atividades de lazer e cuidado pessoal representam uma parcela menos expressiva dos pedidos. Viagens e festas, por exemplo, foram listados por 1% cada como motivo das solicitações. Estética e saúde, por sua vez, ficaram com 0,4% e 7,2% respectivamente das solicitações.
Pouco mais da metade de todos os pedidos vem de trabalhadores CLT’s. Além disso, a média das solicitações são de pessoas que ganham até 2,9 salários mínimos. E uma parcela ainda maior dos solicitantes (77%), não possuem ensino superior.
Para Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero o mercado de crédito teve que se reinventar com base na insuficiência da renda, para tornar possível atender quem vive com pouco. “A pessoa que recebe 1 mil por mês teria muita dificuldade de pagar uma dívida em quatro parcelas. As estatísticas de solicitações nos mostram que essa não é uma faixa de renda viável para que os motivos de empréstimos deixem de ser dívidas e abram espaço a outros, como educação ou saúde”, avalia.
- Brasil têm o 2ª pior salário mínimo da OCDE em 2022
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e World Bank colocam o Brasil como o segundo país com o salário mínimo mais baixo dentre os 31 países membros da organização, pagando US$ 2,2 por hora , atrás apenas do México (US$ 1,6).
O levantamento utiliza o dólar como moeda-base, e os salários foram ajustados pela paridade do poder de compra (PPC).
O país que libera o ranking é europeu: Luxemburgo que possui um salário mínimo médio de US$ 13,4 por hora, seguido pela Austrália, com US$ 12,8 por hora, e França, com US$ 12,2. Na América Latina, o Brasil ficou atrás do Chile e Colômbia, que pagam US$ 3,6/h e US$ 2,8/h respectivamente.