Se pesquisas recentes têm apontado para um fenômeno em comum – o do aumento da demanda dos brasileiros por crédito –, um estudo feito pela fintech FinanZero em março ilumina outra faceta dele: do início do ano para cá, há uma busca cada vez maior de pessoas acima dos 65 anos por empréstimos financeiros.
Considerando a base de pedidos feitos à própria FinanZero, essa procura saltou 35% entre janeiro e março.
O número chama atenção pelo fato de a média de idade dos solicitantes de dinheiro na fintech estar na casa dos 35 anos. São pessoas que, desde a pandemia, recorrem ao sistema de crédito para abrir um negócio ou, principalmente, resolver dívidas pendentes.
Em março, vale dizer, o número de pedidos de empréstimos cresceu 23% em relação ao mês anterior, de acordo com dados do Índice FinanZero de Empréstimo mais recente.
Quando perguntados sobre os motivos para pedir recursos no mercado de crédito, as respostas das pessoas acima de 65 anos tendem a se assemelhar ao público em geral: o principal deles também é para pagar dívidas, apontado por 36% dos ouvidos na pesquisa dentro dessa faixa etária.
Em seguida estão demandas próprias dessa população, como renovar a casa (21%) e custos com saúde (15%).
Para Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero, o perfil desse público é diferente do que sugere o senso comum: na verdade, muitos idosos permanecem responsáveis pelas contas domésticas depois que se aposentam – quando não seguem economicamente ativos.
Há dois anos, por exemplo, uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNLD) e do SPC Brasil mostrou que 52% dos brasileiros acima de 60 anos arcavam com os custos de suas casas.
“O mercado passou a olhar muito para essas pessoas depois que percebeu o papel econômico fundamental que elas exercem. Não só continuam produzindo, muitas vezes já aposentados, como formam um perfil consumidor particular, que deu origem à expressão ‘economia prateada’“, explica.
“Por outro lado, o que o dado da FinanZero mostra é que muitas dessas também estão tendo que recorrer a empréstimos para ter um fôlego no orçamento – ou seja, de que nem todas elas têm economias ou ajuda de familiares para passar por momentos de crise“, completa.
Os gastos com saúde, por sua vez, se relacionam principalmente com os custos de convênios médicos que, nesta fase da vida, tendem a ser maiores. Pesquisas feitas nos últimos anos mostram uma capilaridade significativa de planos de saúde entre essa população.
Na percepção de Cezaretto, além desse fenômeno, há também a expansão de um mercado alternativo de saúde, de molde popular, mas que muitas vezes exige gastos extras com consultas e exames. “Entram nessa conta desde quem paga o convênio até quem, pela falta de condições de arcar com esse custo, precisa pagar por medicamentos ou serviços médicos particulares, por exemplo”.
Vale lembrar que, no Brasil, há diversas modalidades de crédito voltadas para o perfil de pessoas acima dos 60 anos. O principal deles é o empréstimo consignado para quem já se aposentou, em que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento. A vantagem dessa linha de crédito está nos juros mais baixos.
Além disso, existem opções em que os solicitantes oferecem como garantia parte do patrimônio, como automóveis ou casas e apartamentos, por exemplo. Dedicadas a pessoas mais velhas, essas linhas oferecem, em troca, juros atraentes. Muitos desses empréstimos seguem sendo ofertados por fintechs.
Para Cezaretto, esse é outro ponto relevante da pesquisa: a adesão de idosos a novos modelos bancários. “É curioso que, mesmo com essas modalidades especiais, muitos idosos encontrem vantagens mais relevantes em fintechs. É um sinal de que eles estão atentos às mudanças no mercado financeiro”.
Dicas para pedir empréstimos
Diante desse aumento de demanda, algumas dicas podem ajudar pessoas acima dos 65 anos a encontrar linhas de crédito mais atrativas:
– Buscar por opções e empresas confiáveis: instituições do setor tendem a concordar que, no caso de aposentados, a melhor opção é mesmo o consignado – que tem taxas menores, parcelas que cabem no bolso e que já são descontadas na conta do cliente. Não apenas bancos tradicionais, mas fintechs também oferecem a modalidade;
– Pesquisar as melhores ofertas: no caso de idosos ainda não aposentados, vale pesquisar por empréstimos com garantias ou, então, avaliar as condições oferecidas para Pessoa Física (PF) e Pessoa Jurídica (PJ). “Como muitas dessas pessoas possuem CNPJ – e as instituições possuem linhas específicas para microempresas – esse pode ser um bom caminho alternativo”, explica Rodrigo Cezaretto;
– Ler todo o contrato para entender todas as taxas cobradas, bem como quitar dívidas que estejam acumulando mais juros. É o caso, por exemplo, das faturas de cartão de crédito. A dica é simples: é melhor recorrer a um empréstimo para quitá-las do que deixar a dívida rolando. “No final, os juros do dinheiro emprestado tendem a ser menores do que as altas taxas do rotativo, por exemplo”, conclui ele.