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Por Gabriela Cupani

Há pouco mais de cem anos, em julho de 1921, os cientistas franceses Albert Calmette e Camille Guérin anunciavam o desenvolvimento da primeira vacina contra a tuberculose, doença milenar até então incurável e mortal. Ela foi aplicada em um recém-nascido que corria risco de morte pois vivia num ambiente contaminado e sua mãe havia morrido da doença. O bebê sobreviveu e o imunizante ganhou o mundo nas décadas seguintes, ajudando a reduzir os casos da doença e mortes. No dia 1º de julho é celebrado o dia da vacina BCG – o bacilo Calmette-Guérin, que leva o nome de seus criadores.

Um século depois de sua descoberta, a BCG é a vacina mais antiga em uso e continua essencial no combate à tuberculose. “É nossa principal arma para prevenir as formas graves da doença”, diz Alfredo Gilio, coordenador médico da Clínica de Imunização do Hospital Israelita Albert Einstein. “E quanto mais cedo for aplicada, maior a proteção.” Com uma dose única indicada logo ao nascer, a vacina deixa a famosa cicatriz que no início parece uma espinha.

Nas crianças, sua eficácia contra a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar (quando se espalha pelo organismo) beira os 80%. Essa taxa pode cair para 50% se for aplicada mais tarde, considerando que quanto mais o tempo passa, maior o risco de contato com a infecção.  

Baixa cobertura vacinal

Apesar disso, a cobertura vacinal da BCG teve uma ligeira queda na última década no Brasil, passando de praticamente 100% em 2012 para 90% do público-alvo em 2022. 

A vacina atenuada (o vírus encontra-se ativo, mas sem capacidade de produzir a doença) levou 13 anos para ser desenvolvida. Primeiro a dupla de pesquisadores isolou a causadora da tuberculose bovina, a Mycobacterium bovis. Colocada num meio de cultura, a cada três semanas eles separavam uma parte e recomeçavam o cultivo. Foi preciso mais de uma década e 230 cultivos para que o bacilo perdesse a virulência. Testado em bois, finalmente foi capaz de despertar uma resposta imune sem causar a doença. A nova cepa começou a ser usada para imunizar crianças e foi trazida ao Brasil em 1925. Em 1976, a vacinação tornou-se obrigatória na faixa dos 0 aos 4 anos. 

Nos últimos 20 anos, a vacina ajudou a reduzir as mortes em 30% mas, ainda assim, até 2019 era a doença infecciosa que mais matava no mundo – até ser ultrapassada pela Covid-19. Estima-se que em 2020 tenha atingido quase 10 milhões de pessoas. No Brasil, foram notificados 68.271 casos novos e 4.543 óbitos em 2021.

Más condições sanitárias

A tuberculose é causada pelo Mycobacterium tuberculosis, transmitido de pessoa para pessoa através de gotículas expelidas ao falar ou tossir. A forma pulmonar é a mais comum, mas pode se espalhar para locais como ossos, rins e meninges. Também pode ficar latente por vários anos e ser reativada em momentos de baixa imunidade. 

Embora possa ser prevenida e curada, ainda é muito subdiagnosticada e está associada a más condições sanitárias, desnutrição e ambientes insalubres e pouco ventilados. É mais grave em imunodeprimidos, como os portadores de HIV.  Os sintomas típicos são tosse, às vezes com sangue, falta de ar, fadiga, perda de peso, febre e suores noturnos. O diagnóstico é feito por meio de radiografia e exames laboratoriais. O tratamento, à base de antibióticos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), dura vários meses.

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