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Por Priscila Carvalho, da Agência Einstein

No início de outubro, o estado de Pernambuco registrou um aumento nos casos de coceira e feridas na pele, que geraram a desconfiança de se tratar da escabiose, popularmente conhecida como sarna humana. Uma investigação da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) revelou que o verdadeiro culpado não era o ácaro causador da sarna, mas as asas de uma mariposa.

De acordo com a nota técnica divulgada pela entidade no início de dezembro, a reprodução das mariposas do gênero Hylesia é comum nesta época do ano e podem causar as dermatites vistas no Nordeste do país. Ao se debaterem contra os focos de luz, os animais liberam “cerdas corporais minúsculas que penetram profundamente na pele humana e causam a intensa dermatite observada”, destacam os especialistas.

Ainda segundo a entidade, a hipótese de se tratar da escabiosa era “absurda”, visto que a forma de transmissão é diferente, bem como a distribuição e o aspecto das lesões cutâneas eram distintos. “Nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame direto e exames histopatológicos [análise dos tecidos]”, completa a nota.

(Imagem ilustrativa/Freepik)
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O que é a sarna?

Provocada pelo ácaro Sarcoptes scabiei variedade hominis, a sarna humana é transmitida por contato direto do indivíduo com conhecidos infectados ou roupas contaminadas, segundo explica Valéria Zanela Franzon, médica dermatologista e professora da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

A fêmea do ácaro, depois que o macho morre, penetra na pele humana e cava uma espécie de túnel, onde permanece por cerca de um mês, segundo informações da SBD. Lá, deposita os ovos e as larvas se liberam, retornando à superfície.

Essa movimentação interna dos ácaros gera os sintomas, como a coceira, que aparece principalmente à noite. Outros sinais são:

  • Erupções na pele que se assemelham a bolinhas;
  • Inchaço;
  • Crosta nas dobras, como abaixo das mamas, virilhas, dedos dos pés e mãos, e nas axilas.
  • Escoriações.

Como evitar o contágio?

Para diminuir o risco de contágio, deve-se evitar ambientes insalubres, onde o ácaro possa estar presente, e garantir condições adequadas de moradia. Manter sempre uma boa higienização das mãos e do corpo também ajuda.

Tratamento

Pomadas ou sabonetes com formulações que sejam capazes de eliminar o ácaro e os ovos são indicadas como tratamento da escabiose humana, além das medidas de higiene, como a troca da roupa de cama a cada três dias e lavagem das roupas.

Medicamentos orais podem ser recomendados aos pacientes com uma imunidade comprometida. Em geral, o tratamento é indicado apenas às pessoas que receberem o diagnóstico da doença ou aos indivíduos que convivam na mesma casa. “Se alguém teve contato com uma pessoa que tem sarna, é recomendado tratar. Muitas pessoas não manifestam a doença, mas carregam o ácaro na pele”, destaca Egon Luiz Rodrigues Daxbacher, coordenador do departamento de doenças infecciosas e parasitárias da SBD.

Ivermectina e sarna humana

Quando ainda se especulava se os casos identificados em Pernambuco poderiam ser escabiose humana, surgiu a dúvida: o uso sem controle da ivermectina estaria associado a um possível surto da doença?

Ao longo da pandemia da covid-19, a medicação usada contra infestações por piolho, sarna e outros parasitas também foi analisada contra o coronavírus, e a última recomendação da Organização Mundial da Saúde – publicada em março de 2021 – indica o não uso fora dos estudos clínicos.

Ainda assim, o consumo foi significativo. Em 2020, cerca de 56 milhões de caixas do medicamento foram vendidas. No ano anterior, em 2019, foram vendidas 7,8 milhões.

O uso excessivo poderia levar a uma resistência ao medicamento da mesma forma que se discute a resistência aos antibióticos e o surgimento das “superbactérias”. No caso, surgiriam “superparasitas”. “O uso de outras substâncias não tem uma relação explicada, mas pode levar a uma resistência do ácaro, causando uma dificuldade no tratamento. Pode ter focos de transmissão que não conseguem ser contidos, mas não necessariamente seja a causa de uma epidemia ou surtos”, explica Egon Luiz Rodrigues Daxbacher, dermatologista.

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