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Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Quem nunca sentiu uma ardência nos olhos quando está na praia ou na piscina? Essa sensação normalmente vem acompanhada de olhos vermelhos, lacrimejamento e irritação e pode sinalizar uma conjuntivite tóxica. Esse quadro é bastante comum e ocorre quando há uma agressão direta aos olhos causada por um agente externo: pode ser um colírio de uso contínuo, o protetor solar, maquiagens e até mesmo o vapor do spray que é aplicado no cabelo. 

Em linhas gerais, a conjuntivite tóxica é uma inflamação da conjuntiva – uma membrana fina e transparente que recobre a parte branca dos olhos (esclera) e que tem como função justamente proteger a superfície ocular de agentes externos e manter a lubrificação dos olhos, evitando o seu ressecamento. 

“A conjuntivite tóxica é uma agressão que acontece tanto na córnea quanto na conjuntiva. Ela causa um quadro muito semelhante às conjuntivites de outras etiologias, sejam elas virais ou bacterianas. A principal diferença é que existe esse fator causal de contato de alguma substância específica no olho”, explicou o oftalmologista Adriano Biondi, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo Biondi, a conjuntivite tóxica se confunde um pouco com as conjuntivites alérgicas e infecciosas causadas por vírus – ela apresenta um quadro um pouco mais irritativo, as pálpebras ficam um pouco mais inchadas, o olho fica avermelhado, com lacrimejamento aquoso que pode atrapalhar a visão e causar uma ceratite (inflamação na córnea). Ela é diferente da conjuntivite bacteriana, onde existe uma secreção purulenta mais exuberante. O médico explica que a conjuntivite tóxica não é contagiosa, já que é causada por um agente químico e não por um micro-organismo.

No verão, os casos costumam surgir mais frequentemente porque o excesso de suor acaba levando para dentro dos olhos partículas dos produtos que são utilizados no rosto (e até vapores desses produtos), especialmente os filtros solares. Um levantamento realizado pelo Instituto Penido Burnier, com base nos prontuários de 270 pacientes que apresentaram conjuntivite no verão, indicou que 20% desses casos eram de conjuntivite tóxica. Entre eles, 46% foram causados pelo contato do protetor solar nos olhos, 39% pelo bronzeador e cremes faciais, e 15% por maquiagens e cola de cílios postiços.

Mas, segundo médicos ouvidos pela Agência Einstein, não é para deixar de usar protetor solar no rosto, muito pelo contrário. A proteção solar é fundamental. A recomendação é usar o protetor de forma correta, evitando a aplicação em excesso de ao redor dos olhos para que o produto não escorra com o suor. 

“Ao usar o protetor solar no rosto, espalhe adequadamente e não deixe acumular nos supercílios porque isso pode facilitar que escorra e entre em contato com os olhos. O uso de filtros solares infantis também são uma boa opção para proteção do rosto porque não possuem substâncias que causam irritação ocular. Hoje em dia também já existem filtros oftalmologicamente recomendados”, disse o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, que destaca ainda a importância de usar barreiras físicas para proteção, como usar chapéu, bandana e óculos que tenham filtro UVA e UVB nas lentes.

O diagnóstico da conjuntivite tóxica é clínico, feito com base no relato do paciente e no exame em consultório. Durante a avaliação, o médico consegue identificar características mais específicas, sem a necessidade de um exame mais específico. Uma vez diagnosticada, o tratamento é basicamente isolar o agente causador – por isso, é importante uma avaliação médica para direcionar o tratamento corretamente. 

A principal recomendação é lavar o rosto abundantemente com água fria nos casos de irritação nos olhos durante os banhos de sol. Para um alívio maior, pessoas mais sensíveis podem aplicar compressas frias com água limpa, fresca, gelada – pode ser água mineral ou até mesmo soro fisiológico. Se evoluir para uma conjuntivite alérgica, é preciso tratar com medicamentos, sempre com orientação médica. “Os colírios têm venda livre, mas não devem ser usados nos olhos por conta própria. Alguns colírios possuem corticoides e o uso prolongado pode levar ao glaucoma ou catarata”, alertou Queiroz Neto.

Uso recorrente de colírios

Uma outra causa muito comum da conjuntivite tóxica é uso crônico de alguns colírios indicados para o tratamento de glaucoma – alguns deles possuem substâncias que podem se tornar irritativas devido ao uso prolongado. Se essa for a causa da conjuntivite, a recomendação é suspender o uso e substituir por outro que não cause os sintomas da doença.  “Para evitar esse tipo de reação no olho, alguns laboratórios têm criado colírios sem preservativos [as substâncias que levam à irritação] para quem precisa de uso regular e crônico, especialmente pessoas com olho seco e que usam lágrimas artificiais. Hoje há uma gama de opções de lágrimas artificiais que não carregam na composição esses preservativos e isso faz com que o uso prolongado e repetido não cause conjuntivite tóxica”, finalizou Biondi.

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