De acordo com um estudo feito pela Comscore, o Brasil é o terceiro país que mais usa redes sociais no mundo, estando atrás apenas da Índia e da Indonésia. Mas afinal, quem nunca exagerou no uso de aparelhos eletrônicos? Deslizar o dedo pela tela do celular para ver fotos e vídeos nas redes sociais é um hábito que pode consumir horas na vida de uma pessoa, e isso tem ligação com a maneira com que o cérebro humano funciona.
A neuropsicóloga Anna Rúbia Pirôpo, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, explica que as redes sociais fazem parte do atual contexto social, e que muitas vezes são tidas como prioridade no cenário cultural, além da ampliação da busca pelo reforço social, sendo relevante estar atento aos hábitos acerca desse uso.
“Um neurotransmissor que explica, em partes esse comportamento compulsivo, é a dopamina, que direciona nossa atenção para buscar atividades prazerosas como comer, socializar e se reproduzir, fortalecendo a memória agradável dessas experiências para serem repetidas no futuro. Mas no exagero disso, o indivíduo é inundado por dopamina em um curto espaço de tempo e, como consequência, o sistema de recompensa cerebral, sobrecarregado para lidar com tantos estímulos, reduz o número de receptores de dopamina dos neurônios para reduzir a sua sensibilidade a esses estímulos exagerados, através de um mecanismo chamado de tolerância biológica. Com menor sensibilidade dos neurônios, serão necessários estímulos cada mais intensos para despertar o interesso da pessoa. Talvez, por este motivo, pode- se apresentar maior dificuldade para estudar, ler um livro ou realizar outras atividades fora das telas”, explica.
A neuropsicóloga sugere, portanto, o monitoramento e/ou redução de atividades modernas e viciantes. “Com isso, o sistema dopaminérgico e sensibilidade à estímulos se equilibra, aumentando o autocontrole, e atividades que produzem pouca dopamina, acabam se tornando interessante novamente. Dessa forma, é essencial identificar hábitos prejudiciais, que implicam em angústia, perda de cognição e perda da harmonia das relações e compulsão. Foque em reduzir apenas os hábitos viciantes e determine um calendário de jejum, isto é, crie um período determinado para o uso de celular ou de redes sociais, caso seja esse o problema”, ressalta Anna.
A especialista alerta ainda, que o uso de forma excessiva tem promovido impactos relevantes à saúde mental e os números são alarmantes, principalmente quando se fala do público jovem (pré-adolescentes, adolescentes e jovens adultos).
Um levantamento feito pela plataforma Electronics Hub, um site de informações eletrônicas, a partir da pesquisa Digital 2023:Global Overview Report da DataReportal, considerando 45 nações, concluiu que o Brasil é o segundo país com mais pessoas em frente a uma tela. São cerca de 56,6% das horas acordadas em frente a telas, ou seja, cerca de nove horas do dia. Em primeiro lugar do ranking estão os sul-africanos, que passam 58,2% acordados usando o computador ou um smartphone.
A neuropsicóloga explica, que o uso das redes sociais é um tema que faz parte de uma ampla discussão na Psicologia, principalmente quando se fala sobre “Identidade”, isto é, quando o indivíduo inicia a elaboração de respostas para responder a seguinte pergunta: “Quem sou eu?”.
“A partir desse cenário, percebemos a ascendência do número de casos e compartilhamentos sobre a intensa cobrança diante dos padrões perfeitos de autoimagem, autoexpressão, contexto social e profissional, assim como comportamentos. Esses fatores estão amplamente associados aos elevados níveis de ansiedade, depressão, entre outras patologias”, alerta.
Quanto aos cuidados que os pais devem ter sobre o uso das redes sociais por parte dos filhos, Anna Rúbia afirma que a justificativa está devido ao fato de que criança é exposta a uma gama de informações de forma desenfreada e muitas vezes não compatível com a sua idade, o que pode impactar na sua autoestima, além de possíveis riscos de exposição, por exemplo.
“Pais precisam estar alertas, pois esse contexto é prejudicial partir do momento em que o uso vira uma prioridade e um excesso. Agir de forma preventiva é muito mais eficaz do que o manejo e a correção de uma questão e/ou problema já instaurada”, enfatiza a neuropsicóloga.
Como forma de exemplificar essas ações prejudiciais, Anna Rúbia aponta fatores como “privação do contato físico com as pessoas (o indivíduo ou criança não sai com amigos, evita momentos em família), não realiza atividades que antes realizava, dificuldade para começar e/ou finalizar uma atividade, e uso indevido das redes social, dirigindo, por exemplo, no caso de adultos”.
Por fim, Anna Rúbia Pirôpo Vieira da Costa dá algumas dicas para o uso saudável das redes sociais e internet como um todo. Confira:
- Estabeleça um tempo de acesso (horários de uso);
- Desative as notificações e/ou lembretes;
- No próprio celular consta uma ferramenta de controle do período do uso diário. Importante acessar;
- Durante atividades importantes que exigem maior concentração, manter o celular no modo foco, apenas para notificações relevantes;
- Se conheça! Fique atento aos sinais de alertas emitidos pelo seu corpo e pelas pessoas próximas a você;
- Busque por aplicativos, grupos sociais, que tenham conteúdo do seu interesse e que ampliem seu repertório de conhecimento;
- Lugar de criança não é nas redes sociais. Monitore seus filhos!