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Suplementação de testosterona pode colocar saúde cardiovascular de homens em risco

Até mesmo indivíduos que realmente necessitam de uma dose extra do hormônio precisam ser sempre acompanhados por médicos para evitar problemas

Por Thais Szego

Vira e mexe ouvimos notícias sobre os perigos que as mulheres correm ao usar hormônios, especialmente os masculinos, com o objetivo de ganhar mais massa magra, perder gordura, aumentar o desempenho na prática de atividades físicas, dar um gás na energia e elevar a libido. Mas pouca gente sabe que muitos homens também optam por fazer uma suplementação de testosterona com os mesmos objetivos, ou seja, para ter ganhos estéticos, desportivos, energéticos e sexuais.

E, apesar de, no caso deles, parecer menos perigoso, já que os homens naturalmente têm uma quantidade maior desse hormônio, a suplementação masculina de testosterona também é bastante arriscada. “Os efeitos colaterais incluem queda de cabelo, desenvolvimento de acne, surgimento de neoplasias [câncer], aumento da pressão arterial, do risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e de infarto”, conta Marcelo Franken, da cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein. E é por isso que, segundo o médico, a utilização de esteroides para fins estéticos é proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), incluindo o implante de chips.

Mas existem situações em que homens realmente estão com seu nível de testosterona abaixo do indicado, o chamado hipogonadismo, que pode desencadear sintomas como redução da vitalidade, sinais de depressão e ansiedade, diminuição da força muscular e da densidade mineral óssea, baixa da libido, disfunção erétil e dificuldade de atingir o orgasmo, entre outros. Nesses casos, que devem ser confirmados através de exame de sangue, um médico pode, sim, indicar uma reposição da substância.

Entretanto, é essencial que o indivíduo faça um acompanhamento periódico com o especialista. “Mesmo os pacientes que necessitam de doses extras do hormônio por razões médicas correm mais risco de apresentar problemas cardíacos”, afirma Franken.

O acompanhamento médico é necessário para que esse controle seja feito por bastante tempo. “É importante que esse paciente realize exames frequentes de fatores ligados à saúde cardiovascular, da quantidade de glóbulos vermelhos e das enzimas do fígado por pelo menos seis meses, para que seja possível verificar como o seu organismo está reagindo”, diz o endocrinologista Gustavo Daher, coordenador médico do programa ambulatorial do Einstein. “E, é claro, precisamos analisar detalhadamente a quantidade indicada e até quando a pessoa precisa fazer uso da substância”.

Outra questão muito importante é que antes de prescrever testosterona ao paciente, é essencial que o médico analise o que está causando a deficiência do hormônio. “Ela pode estar sendo provocada por um problema nos testículos, na hipófise [glândula localizada no cérebro] ou até algum tumor. Apenas fazer a reposição tratará um sintoma da enfermidade e pode até mascarar o problema”, alerta Daher.

Apesar de todos esses riscos, os especialistas têm dificuldade para controlar o uso da testosterona. “Ela oferece um aumento considerável na vitalidade e bem-estar do indivíduo, o que faz com que seja difícil convencer muitos de que não devem fazer uso dela”, conta Daher. Por isso, o hormônio é considerado pelo FDA, a agência reguladora de medicamentos ligada ao departamento de saúde do governo dos Estados Unidos, como uma substância que deve ser usada com cautela, pois o paciente pode ter dificuldade para conseguir interromper o seu uso.

Além disso, alguns estudos são utilizados de forma equivocada para reforçar a teoria de que o uso do hormônio não é tão arriscado assim. Um dos mais recentes foi publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine em junho deste ano e analisou 5246 homens com idades entre 45 e 80 anos,  problemas cardiovasculares pré-existentes e nível de testosterona abaixo do considerado normal, e concluiu que o risco de eventos cardiovasculares não foi consideravelmente maior nos voluntários que fizeram uso da substância. Mesmo o trabalho sendo feito com pessoas que estavam com a testosterona abaixo do normal, ele vem sendo usado como pretexto para que algumas pessoas façam uma suplementação da substância sem necessidade e colocando sua saúde em risco. “Apesar do pacote de benefícios prometido pelo hormônio ser muito tentador, é essencial que antes de utilizá-lo o indivíduo procure um médico, faça todos os exames necessários e siga ao pé da letra a recomendação do especialista”, alerta Daher.

Agência Einstein

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(Imagem ilustrativa/Freepik)

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(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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