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Da Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ), tradução: Adamy Gianinni

Jornalista Glenn Greenwald sofre perseguições e ameaças por causa das revelações sobre a Lava Jato - Glenn Greenwald. Foto: Gage Skidmore/Flickr
Glenn Greenwald Foto Gage SkidmoreFlickr

Os relatórios, divulgados em 9 de junho no site The Intercept Brasil, revelam conversas privadas – recebidas de fonte anônima – mantidas entre promotores no caso Lava Jato e o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro; o que demonstra uma coordenação ilegal entre o juiz e uma das partes para abordar as etapas, provas e conteúdo do julgamento que resultou na prisão de Lula.

Glenn Greenwald, um jornalista e advogado constitucional, é um dos três editores que co-fundou o The Intercept , uma mídia digital criado com o objetivo de contribuir para desvendar, através de jornalismo investigativo, diferentes casos de corrupção, abuso de poder e/ou violação de direitos.

A partir desse meio e com a colaboração do maior jornal do Brasil, a Folha de S. Paulo, e do maior semanário, Veja , desde 9 de junho, Greenwald tem sido responsável pela divulgação de artigos com base em uma série de materiais de arquivos inéditos, entre os quais conversas privadas realizadas através Telegram, documentos legais, áudios e vídeos entregues por uma fonte anônima, comprovam atos de má conduta, comportamento antiético e enganoso que comprometem a atuação dos encarregados da investigação e julgamento dos supostos fatos de corrupção em torno do caso da Lava Jato, no qual cem pessoas foram presas, inclusive o ex-presidente Lula.

A publicação deste material constituído um escândalo no Brasil, uma vez que a relação entre ex-juiz Sergio Moro (que mais tarde foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro como Ministro da Justiça) e do promotor-chefe do caso Lava Jato, Deltan Dallagnol, apresentam sinais de ilegalidade, mostrando sugestões e indicações do juiz para o promotor sobre como e quais prazos para apresentar estratégias, evidências e pistas na construção do caso.

O caso de Lava Jato foi a investigação judicial que colocou o ex-presidente Lula na prisão no ano passado, impedindo sua candidatura ao cargo presidencial do qual ele era um dos favoritos. Entre as revelações de pesquisa publicados por Greenwald, incluem trocas entre o juiz e o procurador-geral, que ambos combinaram estratégias e manobras judiciais para evitar qualquer possibilidade do Partidos dos Trabalhadores (PT), liderado por Lula, retornar ao poder.

Na sequência deste esforço de pesquisa, Greenwald e seu parceiro receberam, de acordo com relatórios do jornalista em uma entrevista com Democracy Now, ameaças de morte, que incluem referências a informações sobre a segurança do computador, casa, atividades infantis e vida privada.

Ao mesmo tempo, e enquanto Greenwald apresentou informações sobre sua investigação perante o Congresso brasileiro, a Polícia Federal (sob o comando do Ministro da Justiça, Sérgio Moro) solicitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) um relatório sobre Greenwald no Brasil em um procedimento administrativo que, embora legal, é preocupante para as circunstâncias atuais.

Ataques constantes à liberdade de imprensa

O Brasil, como denunciado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), passa por momentos de constantes ataques à democracia, à liberdade de expressão e ao exercício do jornalismo profissional, sendo cada vez mais urgente o debate sobre o jornalismo e seu papel na democracia. O jornalismo é um instrumento democrático que permite o acesso da população a informações de interesse público, como as divulgadas pelo The Intercept, e o respeito à privacidade e à segurança das fontes é um direito constitucional que protege o direito de acesso a essas informações.

Apesar disso, o ministro da Justiça, Sergio Moro, publicou uma nota em resposta ao relatório, afirmando que “nas supostas mensagens que me envolvem, publicadas pelo site The Intercept neste domingo, 9 de junho, lamento a falta de indicações sobre as fontes ou pessoa responsável pela invasão criminosa dos telefones celulares dos promotores. Assim como a posição do site que não me contatou antes da publicação, ao contrário de uma regra básica do jornalismo. No que diz respeito ao conteúdo das mensagens que mencionam, não há sinais de anormalidade ou que tenham fornecido instruções como magistrados, apesar de terem sido retirados do contexto e apesar do sensacionalismo dos artigos, que ignoram o esquema de corrupção gigante que foi revelado pela Operação Lava Jato”.

https://twitter.com/SF_Moro/status/1137895581328859137?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.ifj.org%2Fmedia-centre%2Fnews%2Fdetail%2Fcategory%2Fpress-freedom-2%2Farticle%2Fbrasil-amenazas-y-presion-al-periodista-de-investigacion-glenn-greenwald-ante-revelaciones-sobre-el.html%3Ffbclid%3DIwAR0B6Jn_anVYdqtEuVFcneRONfgNWfWjlOtf23MKj5mGyA_6suuL3dZJC8U

Da mesma forma, de suas redes, o ministro acusou a mídia de ser um “site aliado a hackers criminosos”.

Como disse Maria José Braga, presidenta da Fenaj, em uma entrevista para o Brasil de Fato, Greenwald e sua equipe não só não cometeram quaisquer irregularidades na publicação de sua investigação, mas eles trabalharam de acordo com os procedimentos básicos de proteção da fonte, fornecendo um serviço valioso para o interesse público: eles ajudaram a provar o que antes era apenas uma “dedução analítica”, isto é, a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro.

Juntamente com a FENAJ, defendemos o infalível direito constitucional de manter a privacidade da fonte jornalística, considerando-a como uma forma de garantir o exercício do jornalismo e proteger a liberdade de informação. Consideramos também que o trabalho do The Intercept Brasil e Greenwald é orientado para a divulgação de informações de interesse público, que revela relações imorais e ilegais entre o promotor e o juiz responsável pelo caso Lava Jato e a condenação do ex-presidente Lula.

A IFJ também exige a cessação imediata de toda pressão política e policial contra Greenwald e sua família e a investigação da origem dos autores das ameaças contra ele.

Fonte: IFJ

Tradução: Adamy Gianinni

*Com colaboração especial de assessoria, jornalista ou agência