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Estudo inédito mostra como células-tronco contribuem para o cabelo ficar branco

Pesquisa da Universidade de Nova York detalha ação de células-tronco ‘presas’ no folículo capilar e como influencia a capacidade de produção de pigmento no cabelo

Por Patrícia Figueiredo

Um novo estudo publicado por cientistas da Universidade de Nova York (NYU) no final de abril mostrou, pela primeira vez, como a ação de células-tronco que ficam “presas” no folículo capilar pode estar relacionada ao surgimento de cabelos brancos. 

Os pesquisadores verificaram que alguns tipos de células-tronco melanocíticas têm uma capacidade única de se locomover entre as camadas de células que formam o folículo, mas ficam presas em uma região específica com o passar do tempo. Isso faz com que os melanócitos, células que fabricam os pigmentos responsáveis pela cor do cabelo, deixem de produzi-los. Com isso, o cabelo continua crescendo, mas sem cor. Surgem, então, os temidos fios brancos. 

A pesquisa é considerada um avanço importante porque, além de trazer cor ao cabelo, os melanócitos também estão relacionados ao surgimento de melanomas, um dos tipos de câncer de pele mais agressivos que existem. 

“É um estudo lindíssimo e muito interessante porque ele mostra algo inédito”, explica a médica Aline Blanco, dermatologista especializada em distúrbios capilares.

“A ciência ainda não sabia dessa capacidade de locomoção das células-tronco melanocíticas pelas camadas do folículo, então, o achado desta nova pesquisa é muito importante, inclusive para pesquisas futuras sobre melanoma, que é o tipo de câncer de pele mais agressivo”, completa Blanco. 

O cabelo nasce no bulbo capilar, uma estrutura na raiz do pelo onde existem células-tronco, ou seja, células que não cumprem nenhuma função específica. Durante o crescimento, essas células-tronco passam por um processo chamado diferenciação e se tornam células específicas. Uma dessas categorias específicas é a dos melanócitos, que são as células responsáveis pela cor do pelo. 

O novo estudo aponta que, além da capacidade de se transformar em melanócitos, estas células também têm uma capacidade rara no corpo humano de voltar ao estágio de células-tronco. “Mas, com o envelhecimento, elas perdem a habilidade de fazer o caminho contrário, e não conseguem mais voltar a produzir cor”, explica a dermatologista.

“O estudo mostra que é a perda dessa função ‘camaleônica’ nas células-tronco dos melanócitos que pode ser responsável pela perda da cor do cabelo. Essas descobertas sugerem que a mobilidade das células-tronco dos melanócitos e a diferenciação reversível são essenciais para manter o cabelo saudável e colorido”, explica Mayumi Ito, professora na NYU Langone Health e co-autora do artigo. 

(Créditos: Agência Einstein)
(Créditos: Agência Einstein)

Feito a partir de uma análise in vitro de células de camundongos, o estudo abre caminho para que pesquisas similares com humanos sejam feitas no futuro. De acordo com Qi Sun, pós-doutorando na NYU Langone Health e principal autor da publicação, as descobertas levantam uma forte possibilidade de que o mecanismo descoberto possa se repetir em humanos. 

“Se for o caso, este estudo apresenta um caminho potencial para reverter ou prevenir o envelhecimento do cabelo humano, ajudando as células aprisionadas a se moverem novamente pelo folículo”, explica Sun. 

Como ficamos grisalhos? 

A cor do cabelo é determinada pela combinação de dois tipos de melanina. Esse pigmento é fabricado pelos melanócitos, células que ficam no folículo capilar. A mistura dos dois pigmentos, em diferentes proporções, é o que garante a variedade de cores de cabelo que existe no mundo. Quando os melanócitos não produzem mais pigmento, mas as outras células do folículo capilar continuam seu ciclo, o cabelo continua crescendo, embora sem cor.  

Ainda não se sabe, exatamente, por que algumas pessoas ficam grisalhas mais cedo que outras. O aparecimento de cabelos brancos é influenciado por uma série de fatores, mas ainda não é um fenômeno completamente conhecido pelos cientistas, explica a dermatologista Sylvia Ypiranga, do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Os cientistas ainda vão focar em entender a questão genética, quais são os fatores que fazem o melanócito parar de produzir pigmento, mas nós já sabemos que existem fatores como exposição à poluição ou à radiação ultravioleta B que podem interferir no funcionamento celular e antecipar ou retardar essa produção”, explica Ypiranga. 

Embora fatores genéticos e ambientais possam explicar a variação, o mecanismo que faz com que os melanócitos parem de produzir pigmento enquanto o cabelo continua crescendo ainda é cercado de mistérios. Um dos principais fatores, é claro, é a predisposição genética. 

Assim como a herança genética é capaz de determinar a cor do cabelo de uma pessoa, ela também determina por quanto tempo as células no folículo vão produzir pigmento, evitando que o cabelo fique grisalho. 

A dermatologista Aline Blanco explica que esse tempo não é, necessariamente, vinculado à idade da pessoa. Por isso, é comum vermos pessoas com cabelos brancos antes dos 30 e outras que não desenvolvem fios grisalhos nem após os 60 anos de idade. 

“A genética vai determinar não só a cor, mas também por quanto tempo o melanócito vai produzir a melanina. Porém, em cima disso, entram vários fatores externos que podem acelerar esse processo”, afirma Blanco. 

A médica explica que estresse, sono irregular, alimentação ruim e sedentarismo levam ao envelhecimento precoce e ao acúmulo de radicais livres no organismo, e podem induzir o aparecimento de cabelos grisalhos mais cedo.

“Temos estudos recentes que mostram como a função do neurotransmissor do estresse leva a alteração dos melanócitos. É como se a noradrenalina em excesso fosse tóxica para essas células. É claro que a genética tem um papel muito importante, mas o estresse também influencia”, explica a dermatologista.

O problema é que, depois que os melanócitos param de produzir pigmento em um folículo, o fio jamais vai voltar a crescer com cor. O processo é, basicamente, irreversível. Por isso, estudos que detalham como ocorre essa parada de produção são importantes para que cientistas possam desenvolver estratégias para quem sabe um dia, reverter a despigmentação no futuro. 

“O que é muito triste é que quando chega neste ponto que a célula-tronco fica presa no folículo, ele é irreversível. Não existe atualmente nada que faça um estímulo para a célula-tronco voltar a virar um melanócito”, afirma Blanco.  “Com esse novo estudo, surge uma esperança de que poderia ser possível reverter o cabelo branco. Se conseguirmos desenvolver algo para estimular essa movimentação das células no folículo, pode haver uma inovação incrível no futuro”, completa a médica.

Agência Einstein

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