Ilustração. Foto: Pixabay
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Conferência Web.br 2019 discute os princípios fundamentais da Web

Evento teve a participação de especialistas nacionais e internacionais

“Qual é a Web que você quer?”. Essa foi a pergunta que embasou grande parte das discussões da Conferência Web.br 2019, realizada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) nos dias 30 e 31 de outubro, em São Paulo, com o apoio do Escritório Brasileiro do World Wide Web Consortium (W3C Brasil). O principal espaço brasileiro de discussão sobre as tendências e boas práticas de desenvolvimento Web contou com apresentações de especialistas nacionais e internacionais sobre temas diversos como os 30 anos da Web, ética e Inteligência artificial, acessibilidade, descentralização da Web, design thinking, entre outros.

Durante a abertura do evento, Hartmut Glaser (CGI.br) enalteceu o papel fundamental dos recursos obtidos através do registro de domínios .br que possibilitam a realização de eventos como a Web.br. “Promovemos a Conferência desde 2009 com o intuito de estimular debates sobre os desafios e oportunidades da Web. Queremos uma Web ética e inclusiva. Não podemos parar. Estamos em desenvolvimento”, destacou. Complementando, Vagner Diniz (Ceweb.br) chamou atenção para a importância de uma Web descentralizada, aberta e livre: “Com esta edição da Conferência, buscamos mostrar que a Web não se relaciona apenas com a parte técnica. É fundamental desenvolver uma Web melhor nos dias de hoje, em que o que acontece no mundo digital repercute no mundo off-line. Somos todos responsáveis pelo o que acontece na Web, pois estamos dentro da rede”.

O primeiro painel do evento teve a participação de Iberê Thenório (Manual do Mundo), Lola Aronovich (Universidade Federal do Ceará) e Léo Viturinno (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). Na apresentação, Viturinno, que é youtuber e surdo, compartilhou com os presentes sua experiência como influenciador digital. Léo explicou que começou seu canal na plataforma de vídeos sempre pensando na acessibilidade. “Além de colocar legenda em meus vídeos para quem não entende libras, passei a colocar dublagem para quem tem deficiência visual. Ela ajuda também quem não é alfabetizado ou quem tem dificuldade de ler a legenda.”

Lola Aronovich comentou sobre sua trajetória como ativista feminista e como o discurso de ódio é propagado na Web e de que forma pode ser combatido. “As pessoas se chocam com alguma questão e compartilham a publicação. O certo é denunciar e não compartilhar o link”, defendeu. De forma complementar Iberê Tenório, que mantém o canal Manual do Mundo no YouTube, comentou que, após o canal alcançar um grande número de inscritos, ele passou a enfrentar um grande desafio ligado ao discurso de ódio e desinformação. “Tento combater isso com os vídeos educativos que produzimos no canal”, pontua.

Métricas usadas em tomadas de decisão foram comentadas por Eduardo Guerra (INPE), que esclareceu que muitos profissionais não utilizam as métricas que coletam quando de fato precisam tomar decisões, baseando-se apenas no que consideram ser correto. Letícia Machado (UFPA), que participou do mesmo painel, contribuiu para a discussão abordando diferentes tipos de crowdsourcing, para financiamento, trabalho voluntário e trabalho pago, considerando a colaboração entre a comunidade para o desenvolvimento de software.

Em painel com Natalia Neris (InternetLab), Thiago Rondon (AppCívico) comentou sobre o futuro da democracia na Web. “Por mais que a tecnologia se desenvolva muito rápido, há uma necessidade de fortalecer as habilidades humanas. Se não furarmos as bolhas de algoritmos, não teremos condições de construir nada diferente na Web”. Já o impacto da tecnologia na vida dos jovens da periferia foi discutido por William Oliveira (perifaCode e Tecnogueto), Juliana Pereira (Instituto da Oportunidade Social) e Guilherme Gonçalo (Instituto da Oportunidade Social), que apresentaram estudos de casos.

Durante o evento, Jonice Oliveira (UFRJ) participou do painel “Design, Ética e IA”. Ela comentou sobre a dificuldade que as máquinas possuem para identificar e diferenciar padrões, e que as pessoas precisam inserir dados de qualidade no sistema para que os resultados da Inteligência Artificial sejam satisfatórios. Na mesma atividade, Diogo Cortiz (Ceweb.br) complementou que “IA não é um ser supremo, mas um conjunto de técnicas que resolve problemas específicos. Ela não sabe qual problema resolver e precisa dos desenvolvedores e designers para isso”.

Na Conferência, Andrzej Mazur (Enclave Games) comentou sobre sua experiência com desenvolvimento de jogos em HTML5 e as tendências para a Web a partir das perspectivas de criadores independentes e grandes estúdios.

No encerramento das apresentações dos keynotes speakers, Vagner Diniz salientou: “Tivemos ótimos momentos ao falar da Web, sobre preservá-la em seus princípios originais. Foram momentos que nos fizeram refletir que também somos responsáveis pela Web que temos e queremos, e que podemos correr atrás disso”. Para ele, o evento respondeu a questão “Qual é a Web que você quer?”, elencando diversos tópicos mostrados pelos participantes da conferência, como uma Web descentralizada, aberta, livre, segura, resistente, acessível, global e uma ferramenta que propicie a luta contra discursos de ódio e propagação de desinformação.

Workshops
A programação da 11ª edição da Conferência Web.br contou também com a realização de diversos workshops. O debate sobre “Re-descentralização da Web” trouxe ao público a importância de unir esforços para manter a essência da Web, criada por Tim Berners-Lee como uma plataforma de todos e para todos. O painel teve a participação de Débora Duarte (especialista digital), Newton Calegari (Ether_City) e Bernadette Lóscio (UFPE), com mediação de Caroline Burle (Ceweb.br) que anunciou a tradução oficial para o português do documento Boas Práticas para Dados na Web, do World Wide Web Consortium (W3C).

Redigido com a colaboração de Bernadette, Newton e Caroline, o documento Boas Práticas para Dados na Web mostra como profissionais envolvidos com a gestão da informação, desenvolvedores e demais interessados em compartilhar e reutilizar dados podem publicá-los de maneira a alcançar maiores benefícios e aproveitamento.

Tendo como base o documento, Bernadette discutiu durante a Conferência Web.br a promoção de uma convivência harmoniosa entre provedores e consumidores de dados por meio das boas práticas. “Ao compartilhar dados na Web, encontramos diversos desafios como promover a sua interoperabilidade, quais formatos utilizar, como disponibilizá-los e identificar recursos, gerenciar feedback, entre outros. Esses desafios precisam ser gerenciados com padrões definidos. Caso contrário, o provedor publica um conjunto de dados que não tem valor, pois os consumidores não conseguirão utilizá-los”, esclarece.

A pesquisadora elencou algumas das boas práticas a serem seguidas por publicadores de dados para facilitar o compartilhamento de informações: publicar metadados com descrição em linguagem natural e formato machine-readable; oferecer espaço para coleta de feedback dos consumidores de dados; disponibilizar as informações adquiridas – o que traz benefícios como o reuso dos dados, que quanto mais utilizados, maior valor possuem.

A arquitetura descentralizada da Web foi comentada por Newton Calegari. “Desde sua concepção, a Web foi criada de modo descentralizado, com princípios claros propostos por Tim Berners-Lee, como ser aberta, livre, global, segura e colaborativa. Cada vez mais dados são gerados na Web, mas eles ficam ao alcance de poucas organizações, favorecendo a centralização da Web”. Newton defende que a descentralização da Web precisa ser debatida por diferentes atores da sociedade, entre membros da academia e representantes do governo, para que a Web volte à sua concepção original.

Finalizando a apresentação, Débora Duarte abordou o futuro do marketing digital. Segundo a especialista, a publicidade é responsável por uma das maiores receitas geradas na Web e as empresas que trabalham neste setor precisam assegurar a segurança e privacidade dos dados que coletam, principalmente diante da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que entrará em vigor em agosto de 2020.

Em workshop sobre Design Thinking e Inteligência Artificial, Natalí Garcia (Accenture Interactive) discutiu como a IA pode ser usada para solucionar desafios do dia a dia, utilizando o método de design centrado nas pessoas. A palestrante recomendou identificar as necessidades dos usuários, definir quais dados serão utilizados e as práticas necessárias para assegurar qualidade, equidade e conformidade com as leis. Ao final do painel, Natalí propôs uma atividade em que os presentes deveriam solucionar problemas utilizando IA ou sem o uso dessa tecnologia.

Outro tema de destaque na Web.br 2019, o futuro da acessibilidade digital foi debatido por Bruna Salton (IFRS), Ronaldo Tenório (Hand Talk) e Simone Freire (Movimento Web para Todos) em workshop mediado por Reinaldo Ferraz (Ceweb.br). Durante o painel, Bruna apresentou iniciativas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul voltadas para acessibilidade, desde os sítios institucionais até educação a distância e documentos digitais. “As instituições educacionais precisam pensar na acessibilidade, com políticas, centros e grupos de trabalho que foquem nesta temática”, ressaltou.

Tenório comentou sobre o desenvolvimento do aplicativo Hand Talk, que faz a tradução do português para libras e que foi adotado por mais de 300 sítios. “Acessibilidade não é apenas uma obrigação, temos que mostrar para as organizações que ser acessível é uma oportunidade de negócio e um recurso importante para sua evolução”, pontuou. Simone Freire salientou a importância dos profissionais de tecnologia na transformação desse cenário: “Temos que falar com quem produz conteúdo, programa e desenvolve sites. É preciso capacitar para a acessibilidade todos os profissionais que trabalham com digital”.

O evento também contou com workshops práticos sobre como fazer uma aplicação Web funcionar tanto on-line como off-line, desenvolvimento de chatbots usando Python e processamento de linguagem natural, gerenciamento de estado com código aberto e como corrigir aplicações propositalmente vulneráveis e um hackathon para prototipar soluções web contra o linchamento virtual.

Em breve, os vídeos e fotos das apresentações serão disponibilizados no site da Conferência: https://conferenciaweb.w3c.br/.

Ilustração. Foto: Anatel

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