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Falando sobre o luto com crianças: 3 livros que abordam o tema de forma lúdica e delicada

Vivemos em uma época em que raramente as pessoas têm espaço ou permissão para demonstrar sua própria dor, enquanto a alegria, força e bom humor são valores muito apreciados. Neste cenário, a morte continua sendo um tabu na maioria das sociedades. Um assunto espinhoso mesmo entre os adultos. As dificuldades parecem ainda maiores quando há […]

Falando sobre o luto com crianças: 3 livros que abordam o tema de forma lúdica e delicada. Foto: Pixabay
Ilustração. Foto: Pixabay

Vivemos em uma época em que raramente as pessoas têm espaço ou permissão para demonstrar sua própria dor, enquanto a alegria, força e bom humor são valores muito apreciados. Neste cenário, a morte continua sendo um tabu na maioria das sociedades. Um assunto espinhoso mesmo entre os adultos.

As dificuldades parecem ainda maiores quando há a necessidade de conversar sobre este tema com uma criança em luto. Infância e morte nos parecem estar em pólos opostos da finita existência humana, mas nada impede que esse encontro aconteça sem aviso prévio.

Crianças (ou até adolescentes) não compartilham das mesmas experiência que um adulto teve até o momento de enfrentar uma realidade tão dolorosa. Durante a infância, a morte ainda é um conceito muito subjetivo: a maioria dos pequenos nunca esteve frente à frente a um caixão ou escreveu uma mensagem de despedida em uma coroa para velório. Em linhas gerais, as crianças ainda não são completamente capazes de compreender as consequências de uma separação definitiva. 

A estagiária paulistana Letícia Nunes Lima perdeu sua avó quando tinha apenas sete anos de idade. Hoje, aos 21, ela recorda que só depois de algum tempo foi capaz de entender o que era perder alguém e que nunca mais a veria avó novamente.

“Nós éramos próximas porque quando eu ia ao interior, onde ela morava, ficava na casa dela. Aos 72 anos ela ficou doente e veio para o hospital aqui em São Paulo, na Santa Casa. Na época, eu não entendia muito bem o que estava acontecendo na minha casa porque realmente era a primeira pessoa próxima de mim que havia falecido”. 

A jovem expressa muito bem a complexidade da morte nesta fase da vida: “Me lembro que não conseguia sentir tristeza e chorava porque todos ao meu redor estavam chorando”, conta Letícia.

Objetividade, coerência e delicadeza são fundamentais

É importante ressaltar que o repertório de palavras e expressões das crianças ainda está em desenvolvimento, assim como as suas emoções diante de uma experiência desconhecida.

Então, como uma criança pode compreender um acontecimento tão comovente e complexo? Como ela será capaz de expressar suas tristezas e confusões? A psicóloga paulistana Maíra Gutierrez reforça a importância de uma comunicação objetiva dentro do universo infantil.

“Crianças percebem as situações e devem ser respeitadas, sendo informadas da realidade dos fatos de forma clara e gentil, sem a utilização de clichês do tipo vovó virou estrelinha, já que os pequenos tendem a entender as expressões ao pé da letra. Explicar a situação de forma afetiva, porém realista, é importante para que a criança já comece a entender sobre as perdas inevitáveis da vida”, explica Gutierrez.

A psicóloga ressalta que cada criança pode assimilar e notícia de forma distinta e processar o fato em um tempo diferentes dos adultos. Sendo a criança ainda um indivíduo em formação e em processo de amadurecimento emocional, muitas delas têm dificuldade de assimilar de imediato o significado da morte. 

“Por isso, é muito comum que as crianças demorem a expressar reações e não façam isso no momento em si. Algumas demonstram raiva por se sentirem “abandonadas” por quem se foi, outras podem se sentir culpadas – pontos importantíssimos a serem esclarecidos à criança. Outras ficam tristes ao perceber a ausência durante a rotina, sendo o luto potencializado pela situação de mudança também”. 

Assim como os adultos, cada criança processará a situação a seu modo e viverá seu luto de maneiras diferentes. “É muito provável que dúvidas do tipo ‘Por que as pessoas morrem? Para onde vão as pessoas que morrem?’ apareçam. É essencial que um adulto acolha essas questões com carinho, respondendo e buscando esclarecer o que for possível dentro do seu entendimento”, recomenda Gutierrez.

A literatura infantil como apoio

Os livros continuam a atravessar o tempo como uma das principais ferramentas de comunicação e aprendizado da humanidade. Alguns autores se debruçaram sobre a temática do luto infantil e conceberam obras excelentes e tocantes. Esses livros podem ajudar gradativamente os pequeninos durante seu processo individual de compreensão da morte de um familiar ou alguém próximo. 

Recentemente, a Turma da Mônica lançou a coleção Bem-me-quer, com histórias em quadrinhos que abordam dores emocionais como medo, raiva, tristeza e também o luto. 

A parceria entre Mauricio de Souza e a psicopedagoga e escritora Paula Furtado resultaram em histórias cuidadosamente elaboradas para despertar a identificação e a empatia em seus leitores mirins. 

Veja outros títulos desenvolvidos para auxiliar no processo de luto infantil.

É assim – Paloma Valdívia (2012, Edições SM)

Com uma narrativa tão delicada quanto as suas ilustrações, o livro fala sobre a morte com muita habilidade, transparência e sensibilidade. A obra instiga raciocínios filosóficos sobre como chegamos e como partimos do mundo, sem se esquivar da tristeza natural que sentimos nas despedidas inevitáveis. 

A autora mostra às crianças que nascer e morrer são meros instantes de nossas existências e que devemos valorizar e desfrutar o presente com alegria. 

O Pato, a Morte e a Tulipa – Wolf Erlbruch (2017 Cosac Naify)

Nesta obra, o autor aborda questões transcendentais sobre a vida e a morte com um texto enxuto e delicado, envelopando os pesares da morte com uma suavidade poética.

As ilustrações completam a forma delicada como as mensagens são transmitidas às crianças porque são, ao mesmo tempo, pragmáticas e encantadoras. As feições dos personagens, principalmente da morte, são capazes de despertar simpatia e ternura nos pequenos leitores.

Para Onde Vamos Quando Desaparecemos? – Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso (2011- Tordesilhinhas)

A morte é um mistério universal. Usando analogias de fácil compreensão como sumiços de pares de meia, o destino das areias levadas pelo vento e até a amplitude do silêncio, o texto estimula uma reflexão profunda na imaginação infantil.

O livro, que faz parte parte do acervo recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, explora as incógnitas da morte com uma abordagem lúdica, poética e encantadora: 

Felizmente (ou infelizmente sei lá) não somos os únicos a desaparecer.
Com todas as outras coisas do mundo, acontece o mesmo.
O Sol, as nuvens, as folhas e até as férias
Estão sempre
A começar e a acabar,
A aparecer e a desaparecer.

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