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Morre Ariel Sharon, ex-primeiro-ministro de Israel, aos 85 anos

Apelidado de ‘trator’, ex-premiê estava em coma havia 8 anos após sofrer derrame no auge de seu poder político O ex-primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon morreu aos 85 anos neste sábado após passar oito anos em coma depois de sofrer um derrame em 2006, no auge de seu poder político. Sharon morreu no centro médico […]

Apelidado de ‘trator’, ex-premiê estava em coma havia 8 anos após sofrer derrame no auge de seu poder político

O ex-primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon morreu aos 85 anos neste sábado após passar oito anos em coma depois de sofrer um derrame em 2006, no auge de seu poder político. Sharon morreu no centro médico de Sheba, nos arredores de Tel Aviv, após sua saúde ter-se deteriorado desde 1º de janeiro, quando teve falência renal.

AP Foto de 30/1/2005 mostra o então primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, em reunião em Jerusalém
AP
Foto de 30/1/2005 mostra o então primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, em reunião em Jerusalém

Como um dos últimos líderes da geração dos que fundaram o Estado de Israel, em 1948, a carreira de Sharon trespassa boa parte da história de 65 anos do Estado judeu.

Como um de seus generais mais famosos, ele fez fama com suas táticas ousadas e por uma recusa ocasional em obedecer ordens. Como político, ele ficou conhecido como “o trator” – desdenhoso em relação a seus críticos, mas capaz de fazer as coisas andarem.

Sharon deixou sua marca na região por meio de invasão militar, a construção de assentamentos judaicos em terras ocupadas e uma decisão chocante e unilateral de retirar tropas e colonos israelenses da Faixa de Gaza em 2005.

Ele planejou a invasão do Líbano por Israel em 1982 e perdeu seu cargo de ministro da Defesa depois que uma milícia cristã aliada a Israel matou centenas de palestinos no campo de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no oeste de Beirute, atraindo o ultraje internacional.

Aos poucos, Sharon conseguiu reabilitar sua carreira política. Durante anos, ele foi uma força motriz no movimento pela construção de assentamentos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, capturando áreas reivindicadas pelos palestinos para um Estado futuro. Ele também iniciou a construção do polêmico muro da Cisjordânia.

Primeiramente eleito primeiro-ministro em 2001 se beneficiando de sua fama de linha-dura, ele liderou uma dura repressão contra a segunda intifada (levante) palestina, em uma violência que deixou mais de 3 mil palestinos e 1 mil israelenses mortos. Ele continua desprezado em boa parte do mundo árabe.

Mas em uma dramática mudança de postura, Sharon liderou a retirada de Israel de Gaza em 2005, removendo todos os soldados e colonos da faixa costeira depois de uma ocupação militar de 38 anos.

A retirada de Gaza levou Sharon a romper com o partido linha-dura Likud e a formar o centrista Kadima. Seu novo partido se direcionava para a vitória nas eleições parlamentares de 2006 quando ele teve o derrame.

Soldado

O ex-primeiro-ministro nasceu na Palestina, em 1928, quando a região ainda estava sob domínio britânico. Quando jovem, ele se juntou à organização clandestina judaica Haganah e lutou na guerra árabe-israelense entre 1948 e 1949, logo depois da criação de Israel.

Na década de 1950, Sharon liderou uma série de operações militares com resultados trágicos. Uma delas, em que 50 casas do vilarejo de Qibya foram explodidas, resultou em 69 mortes.

Sharon chegou à patente de general de brigada e comandou uma divisão durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, na qual Israel conseguiu ocupar Jerusalém Oriental, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

As medidas duras de ocupação que Sharon implantou nesses territórios deram a muitos palestinos a primeira ideia de como agia o homem que seria visto por eles como o grande inimigo.

O primeiro contato do militar com a política ocorreu em 1973, quando ele foi eleito para o Knesset, o Parlamento de Israel. Mas Sharon renunciou um ano depois, para se transformar no assessor de segurança do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Em 1977, ele foi reeleito para o Parlamento.

Invasão desastrosa

Na época em que ocupou o cargo de ministro da Defesa, em 1982, ele arquitetou a desastrosa invasão ao Líbano.

Sem falar explicitamente ao então primeiro-ministro, Menachem Begin, ele enviou os soldados israelenses para Beirute em um ataque que resultou na expulsão da Organização para Libertação da Palestina (OLP), de Yasser Arafat, do território libanês.

Até então, a OLP tinha no Líbano uma base para expansão da organização, onde concentrava operações e organizava a luta armada contra Israel.

Após dois meses, 14 mil membros da OLP, além de militantes sírios, haviam deixado a capital libanesa. Mas dezenas de milhares de palestinos permaneceram, reunidos em grandes campos de refugiados como o de Sabra e Shatila.

Quebrando uma promessa que tinha feito aos americanos, Sharon enviou suas tropas ao oeste de Beirute, alegando que 2 mil militantes da OLP ainda estavam escondidos nos campos.

Para evitar baixas nas forças israelenses, ele ordenou que milicianos cristãos libaneses invadissem Sabra e Chatila (sob o controle de Israel).

Da parte dos milicianos cristãos, o ataque foi uma retaliação ao assassinato do presidente cristão Bachir Gemayel, dois dias antes, que considerava os refugiados palestinos “população excedente”. Até hoje não se sabe ao certo quantos morreram – acredita-se que o número possa ter chegado a 3,5 mil.

Em 1983, Sharon foi afastado do Ministério da Defesa por um tribunal israelense que investigou a invasão do Líbano e determinou que ele era indiretamente responsável pelas mortes nos campos de refugiados.

Sharon argumentou que não era possível prever os desdobramentos sangrentos da entrada das milícias nos campos de refugiados.

A volta

Para a maioria dos políticos, uma condenação como essa significaria o fim da carreira. Mas Sharon continuou sendo uma figura popular na direita israelense, e outra oportunidade surgiu para ele.

Como ministro da Habitação, no início dos anos 1990, ele liderou o grande aumento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e Faixa de Gaza, o maior desde a ocupação em 1967.

Depois de a coalizão de centro-direita de Binyamin Netanyahu chegar ao poder em 1996, o novo primeiro-ministro israelense não aguentou a pressão e incluiu o ex-general em seu gabinete de governo. Em 1998, ele foi designado o novo ministro do Exterior, com elogios de Netanyahu.

Com a vitória de Ehud Barak, do Partido Trabalhista, que assumiu o governo em 1999, Sharon tornou-se líder do Likud, conservador e de oposição a Barak.

Posteriormente, o filho de Sharon, Omri, foi considerado culpado de falso testemunho e falsificação de documentos depois de um inquérito de corrupção que investigou a campanha de Sharon para liderar o Likud. Sharon sempre negou envolvimento e nunca foi formalmente acusado.

Segunda intifada

Ainda como líder do Likud, Sharon fez uma visita polêmica em setembro de 2000 à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. O local é considerado sagrado tanto para muçulmanos como para os judeus, que o chamam de Monte do Templo.

A visita, interpretada pelos palestinos como uma provocação, é considerada um dos acontecimentos que desencadearam a segunda intifada (ou revolta) palestina.

Críticos afirmam que Sharon sabia que a visita iniciaria uma onda de violência e apostou que o público israelense apoiaria um líder duro como ele, que saberia enfrentar a questão com firmeza.

E Sharon acertou. Em 6 de fevereiro de 2001, ele conseguiu uma vitória esmagadora nas eleições, tornando-se primeiro-ministro com a promessa de conseguir “segurança e paz verdadeira”. Ele ainda insistiu que não estava comprometido com as negociações anteriores com os palestinos.

O ex-presidente americano George W. Bush (2001-2009) afirmou que Sharon era “um homem de paz”, mas os anos em que o político israelense liderou o país foram marcados pelo recuo nas negociações com os palestinos.

AP Muro da Cisjordânia tem de 8 a 9 metros de altura e estende-se ao longo de 650 quilômetros
AP
Muro da Cisjordânia tem de 8 a 9 metros de altura e estende-se ao longo de 650 quilômetros

O muro

Depois de uma série de ataques suicidas de militantes palestinos em Israel, que começaram nos anos 1990 e se estenderam pela primeira década do século 21, Sharon iniciou o projeto de construção do muro da Cisjordânia, alegando que a barreira aumentaria a segurança de Israel.

No entanto, ele determinou a retirada israelense da Faixa de Gaza e o desmantelamento de quatro assentamentos na região norte da Cisjordânia, para tentar enfrentar a crescente hostilidade dos israelenses ao seu governo. Depois dessas medidas, Sharon descartou outras retiradas unilaterais.

Em meio à crescente dissidência dentro do Likud por causa da retirada da Faixa de Gaza, Ariel Sharon saiu do partido em 2005, e, juntamente com outros aliados, fundou o Kadima.

Em dezembro de 2005, ele sofreu um leve derrame, seguido de um mais agudo, no ano seguinte, que o deixou em estado vegetativo. Ele foi substituído no governo por seu vice, Ehud Olmert.

Ao lançar seu partido, Sharon convenceu diversas figuras centristas a deixar os partidos Trabalhista e Likud e se unir ao Kadima. Hoje, porém, a agremiação não tem um substituto à altura de Sharon – e possui apenas duas cadeiras no Parlamento israelense. Informações do iG

Da Folha Geral, em Salvador*

*Com colaboração de (agência, assessoria ou especialista)

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