em

“Pornografia feminista” ganha espaço com foco no clímax feminino

Um grupo de 250 atrizes, cineastas, fãs e acadêmicos ligados à indústria pornográfica reuniu-se no mês passado em Toronto, no Canadá, para participar da Conferência Internacional de Pornografia Feminista. Durante o encontro, que incluiu também uma premiação aos melhores do ano, eles comemoraram as conquistas de uma pequena, porém crescente, área da pornografia – em […]

Atores pornô se preparam para mais uma filmagem (Zahra Stardust é a seg. da direita); pornografia feminista decolou na última década
Atores pornô se preparam para mais uma filmagem (Zahra Stardust é a seg. da direita); pornografia feminista decolou na última década

Um grupo de 250 atrizes, cineastas, fãs e acadêmicos ligados à indústria pornográfica reuniu-se no mês passado em Toronto, no Canadá, para participar da Conferência Internacional de Pornografia Feminista.

Durante o encontro, que incluiu também uma premiação aos melhores do ano, eles comemoraram as conquistas de uma pequena, porém crescente, área da pornografia – em que as filmagens valorizam as mulheres e a sexualidade feminina, em vez de privilegiar fantasias do homem heterossexual.

“Se é possível fazer sexo de forma feminista, é possível também filmá-lo desta forma”, afirma a atriz pornô Pandora Blake, de 29 anos.

Entre outras coisas, pornógrafas feministas dizem atribuir às atrizes autonomia significativa no tipo de sexo que desejam encenar diante das câmeras e as estimulam a curtir a experiência.

“As atrizes podem negociar que tipo de práticas sexuais querem fazer, levando em consideração sua segurança. Elas podem escolher também seus parceiros de cena”, diz a atriz pornô australiana Zahra Stardust, que atualmente cursa doutorado na New South Wales University.

Estilo próprio

Esteticamente, a pornografia feminista dispensa muitos dos traços da corrente dominante do pornô hétero – a primazia do clímax masculino, a representação das mulheres como objetos sexuais dedicados ao prazer do parceiro e o “olhar masculino” refletido nos ângulos de câmera sobre o corpo feminino.

Os idealizadores da pornografia feminista afirmam que querem mudar o que os espectadores veem.

“Você começa a ver mais do corpo das pessoas, mais do rosto das pessoas, diminuindo o pressuposto de que o foco da produção é sobre um gênero a despeito do outro”, diz Tristan Taormino, organizadora da Conferência Internacional de Pornografia Feminista.

Jennifer Lyon Bell, fundadora da produtora Blue Alcachofra Films, com sede em Amsterdã, diz que o pornô feminista é um avanço para atingir os objetivos gerais do movimento feminista.

“Uma parte essencial da libertação das mulheres, em geral, é a liberação sexual”, diz ela. “Fazer um tipo de pornografia que realmente excita as mulheres é importante para a libertação da mulher. Isso é parte da razão pela qual esses filmes são feministas e querem mostrar o prazer das mulheres”.

Segundo representantes da indústria, a pornografia feminista é altamente politizada – homens, mulheres, transexuais, gays, lésbicas, deficientes, pessoas de diferentes raças, acima do peso e até os que não se encaixam em nenhuma categoria sexual, todos são filmados com suas próprias características e são livres para expressar sua própria sexualidade.

A estrela pornô Arabelle Raphael, de 25 anos, é iraniana-tunisiana e queixa-se que os produtores da pornografia tradicional normalmente realçam sua mistura étnica ou a reduzem a um “objeto sexual exótico, um fetiche para quem gosta de dançarinas de dança do ventre”.

Mas os pornógrafos feministas “me deixam ser eu mesma e me dão mais liberdade para fazer o que quero com meu corpo em frente às câmeras”, avalia.

O público que assiste à pornografia feminista também é diferente, incluindo casais gays e heterossexuais, homossexuais, transexuais, além de pessoas que rejeitam ser incluídas nas categorias normais de gênero e sexualidade, além de alguns homens solitários.

Democratização

O movimento decolou na última década impulsionada pelo advento da internet e a redução do custo da produção digital de filmes.

“A internet democratizou a pornografia”, diz Pandora Blake.

O prêmio Pornografia Feminista foi criado pela dona do sex shop Good For her, em Toronto, focado em produtos para mulheres.

Carlyle Jensen diz que suas clientes queriam ver outro tipo de pornografia, não apenas as produções tradicionais que julgam ser “mentirosas, robóticas, repetitivas e que, às vezes, depreciam as mulheres”.

Ela passou, então, a aumentar o estoque de filmes pornográficos feministas e, em 2006, lançou o prêmio.

“Não se trata de excluir ninguém, mas de incluir todo o resto nas produções, representando quem nunca está lá”.

Em abril, o nono prêmio de Pornografia Feminista reuniu em Toronto dezenas de estrelas da pornografia de vários estilos, cores e gêneros, fãs, produtores e jornalistas.

Entre as categorias premiadas estão “A professora mais indecente de Educação Sexual”, “O filme transexual mais tentador” e “O filme sapatão mais picante”.

Daniel Nasaw
Da BBC News

Da Folha Geral, em Salvador*

*Com colaboração de (agência, assessoria ou especialista)

A Copa do medo

Brejolândia e outros 36 municípios continuam em situação de emergência em todo o estado